quinta-feira, 13 de março de 2014

Doses Homeopáticas #16


PHILOMENA é um filme meio quadrado (ou redondo) demais, contudo é inegável tanto a excelência do trabalho dos atores, especialmente Judi Dench, quanto o talento de Frears para chocar contradições dentro uma construção narrativa clássica. Os momentos mais complexos ficam por conta do envolvimento da igreja católica, sobretudo sua atuação nefasta no passado, quando encarcerar meninas grávidas podia ser benéfico aos cofres. A contradição vem de Philomena, mulher devassada, mas que ainda possui fé. Sua alienação serve à crítica de Frears, assim como, de alguma maneira e paradoxalmente, mostra também o lado bom de ter no que acreditar. Pena que algumas obviedades e facilidades diluam o viés crítico do filme. Ao optar estritamente pelo “viés humano”, Frears minimizou o que poderia ser também grande do ponto de vista ideológico. 


Fora a passagem quase inútil em que o protagonista viaja a Chicago - inútil por não trazer qualquer coisa à trama - INSIDE LLEWYN DAVIS: BALADA DE UM HOMEM COMUM me pareceu o melhor filme dos irmãos Coen dos últimos tempos. A cinebiografia bem anticonvencional do músico folk Llewyn Davis se foca muito mais no delineamento de sua personalidade do que propriamente neste ou naquele recorte cronológico. O que temos na tela é um personagem cujo deslocamento pode ser erroneamente confundido com apatia. A melancolia desse homem sem planos futuros, cuja música é um esforço sem lucratividade financeira, se traduz justo nessas baladas tristonhas, reflexos do artista entre a cotidianidade em seu espectro mais ordinário e a necessidade de “ser alguém”.      

Não fosse pela brilhante retórica de Noam Chomsky, um dos mais importantes intelectuais americanos, o documentário NOAM CHOMSKY – REBELDE SEM PAUSA seria apenas rudimentar. As ideias controversas de Chomsky sobre a política externa e interna americana, os recursos escusos da mídia controlada pela publicidade, a disseminação do medo como fator imprescindível para o ocultamento de certos expedientes, são apresentadas da maneira mais precária possível, unindo recortes de palestras e outros eventos com depoimentos breves, e não raro inúteis, de pessoas do círculo profissional e até mesmo da esposa de Chomsky. Mesmo curto (73 minutos) o filme é cansativo, nunca por culpa da figura central, mas da maneira engessada como suas teses são articuladas na tela.


Não há como comparar o ROBOCOP de Padilha com o de Verhoeven. Dito isso, detenhamo-nos apenas na estreia do cineasta brasileiro em Hollywood. O início é até promissor, com aquele apresentador canalha e a ação robótico-militar num país do Oriente Médio. Mas a promessa não se cumpre, pois o que vem a seguir é um simples filme de ação que patina toda vez que almeja algo mais profundo, seja em qualquer viés. Fala-se sobre segurança pública, corrupção policial, política, o conceito de “ser”, entretanto tudo de relance, como que para não atrapalhar a ação. Não sei o que aborrece mais, se o blá blá blá interminável que esmiúça a montagem do Robocop, a maneira asséptica com a qual se desenvolve o drama do personagem, ou as interpretações, todas buscando a canastrice como conceito, mas a encontrando tal efeito colateral.



Simpático este A GAIOLA DOURADA, filme franco-lusitano que aborda dramas familiares numa colônia portuguesa em Paris. A maneira como o diretor Ruben Alves conduz sua trama é bastante simples, sem invenções, servindo muito bem ao propósito de discutir a verdadeira vocação dos personagens, os efeitos de suas escolhas, isso em meio ao dilema do casal protagonista de voltar às origens por conta de uma herança ou seguir a vida (de servidão) na França que os acolheu. Se não é uma comédia rasgada, tampouco pende ao dramalhão, equilibrando-se confortavelmente entre ambos. Um filme leve, daqueles bons de ver entre uma prioridade e outra.  

4 comentários:

  1. Gosto do Doses pq esse panorama geral nos estimula muito a assistir todos os filmes, até os que você critica rs.
    Escrever bem dá nisso ;)

    bjs

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  2. Obrigado, Carol, pelo carinho, leitura e comentário.

    beijos

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  3. Uma das seções mais apreciadas por este que vos escreve. Muito boa.

    Grande abraço.

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  4. Obrigado a você também, Rafa, por sempre prestigiar o The Tramps.

    Abração

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