sábado, 15 de novembro de 2014

CINEMA A DOIS | JIM JARMUSCH – Uma Noite Sobre a Terra (1991)


Em Uma Noite Sobre a Terra, Jim Jarmusch tem como pano de fundo das cinco histórias: o breu da noite, cidades diferentes e conversas inusitadas que acontecem em táxis.

Muito atraente desde a primeira cena, o filme nos leva, de forma leve, a querer saber o que acontecerá com os personagens, todos eles suis generis, como, por exemplo, o taxista estrangeiro perdido nas ruas de Nova Iorque, ou a garota cega, em Paris. Nesse contexto singelo e muito interessante, Jim Jarmusch vai deixando marcas bastante conhecidas, vistas em seus filmes anteriores.

As mini narrativas contam com alta dose de humanidade, paradoxalmente explorada a partir de personagens aparentemente sem muita importância. E é nesse ritmo que vemos uma inversão de papéis entre as duplas. Onde um vive a realidade do outro, sem ser o outro.
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Uma Noite Sobre a Terra é daqueles filmes fragmentados, feito de pequenas histórias aparentemente autônomas e/ou aleatórias, mas que formam um conjunto coeso quando notamos as similaridades. Todas as tramas se passam basicamente dentro de táxis, e começam opondo condutor e passageiro. As interações evidenciam diferenças, mas logo, e de uma maneira bastante orgânica, universos que pareciam até então díspares vão encontrando insuspeitos pontos de conexão. Nesse sentido, talvez a melhor história seja a do motorista alemão (na verdade um palhaço vindo da Alemanha Oriental) que cede o volante (por inabilidade) a um negro que precisa voltar ao Brooklyn.

Também é interessante notar como Jim Jarmusch começa todos os fragmentos descrevendo brevemente entornos feios, desgastados, ruelas escuras e nada convidativas, mesmo quando estamos em Paris ou em Roma, cidades que vêm à nossa mente prioritariamente como destinos turísticos. Aliás, na parte de Roma, até a verborragia acelerada (e por vezes quase insuportável) de Roberto Begnini é muito bem utilizada. O último segmento, passado em Helsinki, é uma óbvia homenagem do americano aos Kaurismäki (os cineastas Aki e Mika), seja por dar o nome deles a dois personagens ou por utilizar como protagonista o ator Matti Pellonpää, colaborador frequente de Aki.


Por Ana Carolina Grether e Marcelo Müller

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